sábado, 24 de maio de 2008

J. Grotowski, "Para um Teatro Pobre".

Que espera do espectador neste género de teatro?

Os nossos postulados não são novos. [...] Não trabalhamos para o homem que vai ao teatro para satisfazer uma necessidade social de contacto com a cultura: por outras palavras, para ter alguma coisa de que falar com os amigos, ou para poder dizer que viu esta ou aquela peça e que era interessante. Não estamos aqui para satisfazer as suas “necessidades culturais”. Isso é batota. Nem tão-pouco trabalhamos para o homem que vai ao teatro para descansar de um duro dia de trabalho. Toda a gente tem o direito de descansar depois do trabalho e numerosas formas de distracção existem com esse fim, desde certos tipos de filmes ao cabaré e ao music-hall, e tantas do mesmo género.O que nos interessa é o espectador que quer realmente, através do confronto com o espectáculo, analisar-se a si próprio. O que nos interessa é o espectador que não se fica por um estádio elementar de integração psíquica, muito satisfeito com a sua pobre estabilidade geométrica e espiritual, sabendo exactamente o que é bom e o que é mau, e alheio a dúvidas. Não foi a ele que El Greco, Nordwid, Thomas Mann ou Dostoiewski se dirigiram, antes àquele que empreende um processo sem fim de autodesenvolvimento, cuja inquietação não é geral, antes dirigida para uma busca da verdade sobre si próprio e a sua missão na vida.


Quer isto dizer um teatro para uma elite?

Sim, mas para uma elite que não é determinada pela base económica ou situação financeira do espectador, nem sequer pela educação. O trabalhador que nunca teve educação secundária pode aderir a este processo criativo de auto-análise, ao passo que o professor universitário pode estar morto, definitivamente formado, moldado na rigidez terrível de um cadáver.


Grotowski, Jerzy, Para um Teatro Pobre, 1975, Lisboa, Forja.

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