sábado, 24 de maio de 2008

Crítica Cinematográfica nº 1.


A Invasão (2007), de Oliver Hirschbiegel

Um vaivém espacial despenha-se ao chegar à Terra. Consigo trás um vírus extraterrestre, que num espaço de dias, começa a infectar a humanidade. O vírus, que actua durante o sono profundo, transforma os humanos em autómatos frios, privados de qualquer emoção, tornando-os semi-pacíficos. Como o vírus é transmitido por qualquer portador através da troca de fluidos, para fugir à contaminação, é necessário as pessoas manterem-se acordadas.
Esta premissa, nada nova, tem longa data. Este filme é mais uma adaptação, a quarta, do romance de ficção científica, The Body Snatchers, de 1955, escrito pelo norte-americano Jack Finney, cujas versões anteriores são respectivamente, A Terra em Perigo (Don Siegel, 1956), A Invasão dos Violadores (Philip Kaufman, 1978) e Violadores - A Invasão Continua (Abel Ferrara, 1993).
Este thriller de ficção científica é protagonizado pela australiana Nicole Kidman e pelo inglês Daniel Craig, o novo James Bond. É realizado pelo alemão Oliver Hirschbiegel (o seu primeiro filme em língua inglesa), conhecido pelo filme A Queda – Hitler e o Fim do Terceiro Reich, aclamado pelo público e pela crítica em 2004, e escrito pelo argumentista David Kajganich. Apesar de tudo, por falta de algumas cenas mais espectaculares, os produtores e o estúdio, Warner Bros., decidiram reescrever e refilmar algumas cenas e para isso contrataram os irmãos Wachowski (Matrix, 1999) e o realizador James McTeigue (V de Vingança, 2005).
O filme é uma alegoria à situação política americana actual e todos os conflitos que daí advêm, como são exemplo a guerra no Iraque, genocídio em Darfur, ou mesmo a catástrofe natural causada pelo furacão Katrina. Tudo isto contrariamente à paz do planeta trazida pelo vírus alienígena, já que o completo estado de transe não leva os “humanos alterados” a cometer actos demasiadamente violentos. Além disso a ideia da personagem principal ser uma psiquiatra que receita medicamentos anti-depressivos, reflecte bem o estado depressivo em que a humanidade se encontra actualmente, causas essas que também têm a ver com as situações políticas e ambientais, referidas anteriormente.
Neste mundo pós-moderno, permanentemente engolido por uma sociedade individualista, consumista, podre, decadente, cheia de desgraças, que acontecem pelo globo fora, as pessoas andam desnorteadas, inseguras, apreensivas, apavoradas, depressivas até e não conseguem encontrar a sua paz interior. Os “humanos alterados” pelo vírus vêem mostrar que é possível viver em paz, coisa que os nossos governos mundiais nunca conseguiram resolver. Mas paz até que ponto? E se nós, os humanos, seres emocionais, só entendemos a agressividade e a violência na resolução dos nossos conflitos, então o que seriamos se não houve nada disso, nem violência, nem emoções? Deixávamos de ser humanos? A ideia parece absurda, mas tem algum fundamento, embora completamente discutível.
Ainda que estas ideias contextuais tragam uma mais-valia ao conteúdo do filme, a sua linha narrativa é simplista, com um final apressado e onde as cenas de maior suspense pecam exactamente pela falta desse mesmo suspense. Uma nota para o trabalho dos actores principais, que se mostram bastante competentes, apesar de não sentir a química entre Kidman e Craig, que até formam um par bastante interessante. Um filme que se vê bem e que não nos provoca pesadelos à noite.


(14-11-2007)

Sem comentários: