Todo o português gosta de um bom peixe assado na brasa. Os algarvios então, são dos que mais apreciam esta iguaria. Como algarvio não sou excepção. Por causa dela, resolvo contar-vos esta pequena história. A estação estival da minha infância e adolescência sempre fora passada na casa de praia dos meus avós e dos meus tios. Uma praia chamada Praia de Monte Clérigo, próxima da vila de Aljezur, bem no coração do parque natural da Costa Vicentina. Uma praia duma rara beleza paisagística, que oferece uns bons dias de descanso e de relaxamento. Uma das coisas que mais apreciava (e aprecio) era o peixe assado ao almoço. Sempre que houvesse pescaria, no dia seguinte era peixe assado na brasa, com salada e batata-doce. Homens na pesca, mulheres a arranjar o peixe para o dia seguinte. Mas, meus amigos, estou a falar de sargos, douradas e robalo, tipos de peixe que raramente se come por serem bastante caros. Todos os verões se repetia a mesma história, mas, houve um muito especial, o melhor de todos, que ainda recordo com saudade. Há cerca de 12, 13 anos atrás, houve um verão de particular abundância. Sem exagerar, não falhando nas contas, comi peixe assado ao almoço todos os dias, durante 3 semanas seguidas. Foi o verão da minha vida. Esta pequena história é uma introdução para o que me aconteceu há dois dias atrás. Na 5ª feira passada o meu avô telefonou-me a perguntar se eu queria ir almoçar com ele e a minha avó em sua casa. Respondi prontamente que sim e abalei. Chego e que vejo eu em cima da mesa: sargo assado na brasa, salada e batata-doce. A minha visão e o meu olfacto ficaram completamente extasiados. Quando comecei a comer, os odores e os sabores da refeição faziam o meu cérebro disparar as memórias daquele verão estupendo em Monte Clérigo. Quando fechei os olhos, quase como poesia, senti a brisa marinha e o som das ondas da maravilhosa praia de Monte Clérigo. E logo a seguir senti-me melhor, melhor pessoa, senti-me bem por eu ser eu. Porque não existe nada melhor na vida que as memórias das boas sensações vividas. São estas pequenas coisas que nos fazem dar valor à vida que temos. No mundo pós-moderno que vivemos, são pequenas coisas como esta que nos fazem acreditar em algo, que nem tudo está perdido, e que, podemos e devemos conservar aquilo que nos é mais precioso na vida. Um bem haja ao peixe assado, sem dúvida alguma, o meu prato favorito.
Escrito a 29-03-2008
Sem comentários:
Enviar um comentário