Título: Tempestade Tropical (Tropic Thunder)
Ano: 2008
Realização: Ben Stiller
Elenco: Ben Stiller, Jack Black, Robert Downey Jr., Nick Nolte, Brandon T. Jackson, Steve Coogan, Danny McBride, Bill Hader, Jay Baruchel, Brandon Soo Hoo, Matthew McConaughey e Tom Cruise.
Género: Comédia, Acção e Guerra
País: E.U.A. e Alemanha
Produção: Stuart Cornfeld, Eric McLeod, Ben Stiller e Justin Theroux
Argumento: Ben Stiller, Justin Theroux e Etan Cohen, com história de Ben Stiller e Justin Theroux
Música: Theodore Shapiro
Fotografia: John Toll
Montagem: Greg Hayden
Sinopse/Crítica: São poucos os filmes feitos dentro da indústria de Hollywood e dos seus grandes estúdios que ousam criticar os seus pares, de forma tão directa e contundente, com tudo o que isso tem de bom de mau, satirizando as situações ao expoente máximo. Este é um deles.
Tugg Speedman (Ben Stiller), Jeff Portnoy (Jack Black) e Kirk Lazarus (Robert Downey Jr.) são as grandes estrelas do momento. Os três são contratados para protagonizarem o maior e mais caro filme de Guerra sobre o Vietname. Mas nem tudo são rosas. O realizador estreante Damien Cockburn (Steve Coogan) não consegue controlar as suas estrelas, o que provoca atraso nas filmagens e custos elevados ao estúdio, levando o produtor Les Grossman (Tom Cruise) a cancelar o projecto. Mas o realizador não cede. Determinado a acabar o filme, leva os actores para a selva, onde serão filmados por câmaras ocultas. Porém, o filme que eles pensam estar a fazer, depressa deixa de ser um filme e aí é que as coisas se complicam.
Depois de Zoolander (2001), o seu último trabalho com realizador, Ben Stiller regressa como autor, onde aborda as grandes questões inerentes a uma grande produção fílmica, dando uma visão crítica muito interessante sobre a indústria cinematográfica. A importância do dinheiro dos grandes estúdios continua a ditar as regras na realização das obras. Os critérios de selecção da Academia americana na entrega dos seus prémios, os famosos Óscares, continuam a suscitar dúvidas. Uma visão satirizada das instituições, que nos dá uma ideia de como tudo funciona, ainda que ligeira. O realizador consegue aqui juntar um bom material cómico a um excelente elenco de actores, todos eles conhecidos do grande público, onde se destaca claramente Robert Downey Jr. (a provar que já deixou a má vida) e onde vemos Tom Cruise como nunca o vimos antes.
Existem outros aspectos interessantes nesta película. A referência aos grande filmes de guerra do passado, em especial, aqueles que abordam a guerra do Vietname, com apropriação justificada das suas cenas mais emblemáticas. Os dois exemplos mais óbvios são Apocalypse Now (1979) e Platoon (1986), embora haja cenas tiradas de outros, como O Resgate do Soldado Ryan (1998) ou A Ponte sobre o Rio Kwai (1957). A selecção musical é muito boa, pois consegue juntar um número de canções excelentes dos finais dos anos 60, princípios de 70, altura em que o conflito no Vietname se intensificou, tal como os protestos contra o mesmo. Sympathy for the Devil dos Rolling Stones, The Pusher dos Steppenwolf, For What it's Worth de Buffalo Springfield, Ball of Confusion (That's What the World Is Today) dos The Temptations e Run Through the Jungle dos Creedence Clearwater Revival, são algumas das “pérolas”.
Resumindo e baralhando, Tempestade Tropical é um entretenimento garantido, que faz reviver aos maiores cinéfilos, os grandes clássicos de guerra que a indústria já produziu, com destaque para os filmes sobre o Vietname, uma guerra difícil de esquecer para os norte-americanos e que marcou mediaticamente o século XX.
Classificação: **** - Muito bom
Curiosidades sobre o filme: A ideia de fazer este filme ocorrera a Ben Stiller durante a rodagem do filme O Império do Sol (1987), de Steven Spielberg, onde o actor desempenhara um pequeno papel.
Título: As Asas do Desejo (Der Himmel über Berlin)
Ano: 1987
Realização: Wim Wenders
Elenco: Bruno Ganz, Solveig Dommartin, Otto Sander, Curt Bois e Peter Falk
Género: Drama e Fantasia
País: República Federal da Alemanha, França
Produção: Anatole Dauman, Ingrid Windisch e Wim Wenders
Argumento: Peter Handke, Richard Reitinger e WimWenders
Música: Jürgen Knieper
Fotografia: Henri Alekan
Montagem: Peter Przygodda
Sinopse/Crítica: Berlim, 1987. O Muro continua a dividir a cidade e as memórias da guerra continuam a fazê-la tremer. Anjos vagueiam pelos seus céus. Observando e escutando, como se pudessem ler os seus pensamentos, eles confortam e acarinham as pessoas, mesmo sendo incapazes de ter qualquer interacção física com elas. Ao apaixonar-se por uma trapezista dum circo em decadência, um dos anjos, Damiel (Bruno Ganz), deseja tornar-se mortal e experimentar todas as sensações humanas.
Este é o ponto de viragem deste drama fantástico do alemão Wim Wenders, que mostra-nos uma Berlim nos seus últimos anos de Guerra Fria, cansada, desgastada, nostálgica. Uma nostalgia de paz, relembrada pelo personagem do velho, que procura num descampado, aquilo que outrora fora a praça Potsdamer, onde ele costumava beber o seu café e fumar o seu charuto. Memórias dum espaço que desapareceu com a guerra.
Wenders explora (e muito bem) visualmente todos os recantos da cidade e das suas pessoas, através do ponto de vista dos anjos. É aqui que se encontra a característica visual principal do filme. O contraste do ponto de vista dos anjos, num tom monocromático sépia, mudando para a cor, quando se passa para o ponto de vista humano. Um jogo cromático interessante para justiçar a falta de sensações humanas por parte dos anjos.
Um outro aspecto interessante é quando o anjo Damiel se torna finalmente humano, a sua passagem para o mundo terreno é feita dentro do Muro de Berlim, como se o Muro funcionasse como purgatório, mas ao contrário, do Céu para a Terra.
Peter Falk, que faz dele próprio no filme, está em Berlim para participar num filme sobre o Nazismo em Berlim. É ele que assiste Damiel na transição para a vida terrena, dizendo-lhe que já fora um anjo e que renunciara a imortalidade para poder experienciar os simples prazeres da vida na Terra, como fumar um cigarro ou beber um café acabado de fazer.
Der Himmel über Berlin, não é mais do que uma celebração ao desejo, à esperança, ao amor, à vida, à liberdade, à realidade e a existência, numa cidade que muito sofreu com a falta destes atributos num passado recente.
Classificação: ***** - A não perder
Curiosidades sobre o filme: Este filme, tal como muito outros, sofreu um remake americano, intitulado A Cidade dos Anjos (1998), com Nicolas Cage e Meg Ryan.
Legenda:
*- Mau
** - A ver
*** - Bom
**** - Muito bom
***** - A não perder
(Textos publicados na edição de 08 de Outubro de 2008 do jornal Carteia.)
1 comentário:
De facto, tenho saudades de Vilamoura.
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