sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Mais Críticas.

As minhas duas novas críticas do jornal Carteia:


Título: Get Smart – Olho Vivo (Get Smart)

Ano: 2008

Realização: Peter Segal

Elenco: Steve Carell, Anne Hathaway, Dwayne “The Rock” Johnson, Alan Arkin, Terence Stamp e Kenneth Davitian.

Género: Comédia, Acção, Baseado em série de TV.

Sinopse/Crítica: Adaptar séries televisivas de sucesso para o grande ecrã não é um conceito novo. Aliás, nos últimos anos, Hollywood têm-se servido desse conceito para justificar a sua falta de inspiração, procurando uma reintegração do original aos tempos pós-modernos, moldando-o a seu belo prazer, a fim de atingir o sucesso. O conceito não é necessariamente mau mas há sempre a tendência da comparação, elevando as expectativas de quem conhece o material original.

Para quem não se lembra, Get Smart – Olho Vivo (2008) é a transposição para o grande ecrã da famosa série televisiva Get Smart (em português, Olho Vivo), criada em 1965 por Mel Brooks e Buck Henry. Estávamos em plena Guerra Fria e a série parodiava o grande agente secreto da literatura e já estabelecido no cinema, James Bond. A Guerra Fria há muito que terminou, mas o agente 86 da agência secreta americana, CONTROL, Maxwell Smart (Steve Carell) está de volta, desta vez para combater novos inimigos, adeptos do terrorismo, personificados pela sociedade criminosa KAOS, adormecida há mais de 30 anos. Sempre com a ajuda da bela e perigosa Agente 99 (Anne Hathaway).

O filme assume-se como um up-grade da série dos anos 60, abordado de forma leve e cómica como o era na altura, apenas reinventa a origem da personagem principal. O argumento revela-se pouco ambicioso e demasiado centrado na relação entre Maxwell Smart e a Agente 99. Apesar das falhas, Peter Segal tem uma realização competente e potencia sempre o carácter cómico de Smart, muito bem interpretado por Steve Carell, a fazer lembrar Don Adams, o actor que interpretava a mesma personagem nos anos 60. Aliás este é o ponto forte de todo o filme: o elenco. Steve Carell está muito bem e é claramente o actor cómico do momento em Hollywood. Anne Hathaway revela os seus dotes de action girl e de Bond girl. Dwayne “The Rock” Johnson mostra que sabe fazer algo mais do que cenas de acção e Alan Arkin está estupendo no papel de Chefe da CONTROL, no qual arranca alguns dos melhores momentos de comédia.

Em suma, Get Smart – Olho Vivo, é claramente uma homenagem ao espírito da série televisiva, um filme simpático e competente, que cumpre o papel para que fora concebido: gerar um bom entretenimento para todos.

Classificação: ** - A ver

Curiosidades sobre o filme:

- Jennifer Love Hewitt e Rachel McAdams foram consideradas para o papel da Agente 99 antes de ir ter parado às mãos de Anne Hathaway.

- Quando o projecto entrou em desenvolvimento em 1998, Jim Carrey era um dos possíveis actores para interpretar a personagem principal.

- Anne Hathaway abriu o queixo durante as filmagens e teve de levar quinze pontos.

- Há referências aos três carros que foram mostrados na série original. O Sunbeam Tiger, o Volkswagen Karman Ghia e o Opel GT Todos estes carros apareciam nos créditos de abertura da série original. A série durante cinco anos, de 1965 a 1970.


Título: WALL-E (WALL-E)

Ano: 2008

Realização: Andrew Stanton

Elenco (Vozes): Sigourney Weaver, John Ratzenberger, Fred Willard, Jeff Garlin e Ben Burtt

Género: Animação, Ficção Científica

Sinopse/Crítica: Todos os anos somos brindados com um novo filme da Pixar Animation Studios, para muitos, o melhor estúdio de animação do mundo. Deles podemos sempre esperar mais e melhor pois parece não existir limites para a imaginação dos seus animadores. Quem ganha com isso somos nós, os espectadores. Esperemos contar com a sua magia por muitos e bons anos. WALL-E (2008) é o exemplo mais recente dessa magia.

No futuro o nosso mundo é uma gigantesca lixeira. Os humanos há muito que deixaram o planeta num cruzeiro espacial, prometendo um dia voltar quando a Terra se tornasse de novo sustentável à vida. Para trás, ficaram os robôs compactadores de lixo para limparem o planeta. WALL-E é o último desta espécie e está a limpar a Terra há 700 anos, tendo por sua única companhia, uma barata. Durante esse tempo, o pequeno e simpático robô foi desenvolvendo uma personalidade, coisa muito invulgar em máquinas, sendo muito curioso e um maníaco coleccionador de objectos deixados pelos humanos. Mas WALL-E sente-se muito só e o seu grande desejo é ter uma companhia para partilhar a sua vida. Um dia, a chegada de EVA, uma sonda robô enviada à Terra pelos humanos, muda a sua vida para sempre. Ao apaixonar-se pela bonita sonda, a sua vida ganha novo significado. Mas quando EVA tem de regressar para junto dos humanos, após ter terminado a sua missão, WALL-E não desiste e corre atrás dela pelo espaço fora, na maior aventura da sua vida.

Contextualizando dentro do cenário apocalíptico, o filme aborda temas extremamente importantes que afectam de forma negativa o nosso planeta: o consumismo exagerado e a poluição resultante, e a consequente perda de saúde humana devido à dependência da tecnologia e das máquinas. No fundo, é uma chamada de atenção para os nossos comportamentos actuais para com a nossa “casa”, o nosso planeta. De qualquer das maneiras, existem outros temas igualmente importantes, afectando de forma directa as personagens principais. Um deles é a solidão, os outros são o amor e a felicidade. Qualquer comparação entre Robinson Crusoe, de Daniel Defoe, e WALL-E não é de todo descabida. Tal como Crusoe, WALL-E está preso, isolado nesta enorme “ilha” chamada Terra há imenso tempo, preso à sua eterna função de compactar lixo. É o último da sua série e o desenvolvimento de “uma consciência”, permite-lhe perceber que está só e que o seu único desejo é ter uma companhia afectiva, “alguém” a quem dar a mão. Daí o objecto mais precioso da sua vasta colecção seja uma cópia em VHS de Hello, Dolly! (1969), um musical de Gene Kelly. Mas como a esperança é a última a morrer, o desejo do pequeno e simpático robô é atendido através do aparecimento de EVA, a sonda robô. WALL-E fica perdidamente apaixonado por ela e sua vida ganha um novo sentido. Como o amor pode mudar a nossa maneira de ver o mundo e de nos tornar mais felizes. O amor e a felicidade, as eternas buscas humanas, são assim mostrados pelas simpáticas lentes daquele pequeno robô chamado WALL-E. Uma verdadeira lição de humanidade dada por uma construção do Homem.

Em termos técnicos, esta criação de Andrew Stanton é esplendorosa. O realizador não se poupou a esforços e mostra-nos uma estética visual muito própria, cheia de amor e ternura, muito bem combinada com alguns trechos de imagem real. O som é igualmente fabuloso, num filme quase sem diálogos. Uma narrativa visual, a fazer lembrar o longínquo cinema mudo. Esta é uma grande capacidade que o cinema tem, de mostrar tudo sem usar a ferramenta palavra. Sendo um filme de animação, enquadra-se também na ficção científica, onde existem referências aos grandes clássicos deste género. A mais óbvia é 2001: Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick. Primeiro pela utilização da música da sua sequência de abertura, a famosa abertura do poema sinfónico de Richard Strauss, Also sprach Zarathustra (1896) numa determinada sequência do filme e pelas parecenças entre o robô de Kubrick, HAL 9000 e AUTO, o piloto automático da nave dos humanos. Uma nota especial para os créditos finais, no qual é mostrada a evolução da pintura como arte, deste a pintura mais anciã até às vanguardas históricas, tudo dentro do contexto fílmico. Um momento artisticamente fabuloso.

Apesar do negativo cenário futurista, WALL-E (2008) é um filme muito positivo, um hino ao amor e à esperança. Com a união destes dois sentimentos, é possível mudar as nossas vidas, mudar o mundo e ambicionar um futuro melhor para todos.

WALL-E é a razão pela qual todos nós gostamos de ir ao cinema.

Classificação: ***** - A não perder


Legenda:

*- Mau

** - A ver

*** - Bom

**** - Muito bom

***** - A não perder

(Textos publicados na edição de 21 de Agosto de 2008 do jornal Carteia.)

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