Este País Não É Para Velhos (2007), de Joel e Ethan Coen
O que têm em comum um xerife, um soldador e veterano do Vietname, e um assassino contratado? Nada mais, nada menos que uma mala que contém dois milhões de dólares: dinheiro de uma transacção de droga mal sucedida, ocorrida no Texas, próximo da fronteira com o México, no início de 1980.
Este é o mais recente filme dos irmãos Coen, o grande vencedor dos Óscares de 2007, tendo ganho o de melhor filme. Marca o regresso dos Coen aos thrillers violentos, se tivermos por comparação alguns dos seus registos anteriores, nomeadamente Sangue por Sangue (1984) e Fargo (1996). Este País Não É Para Velhos (2007), tal como os mencionados, têm pontos de contacto evidentes que chegam a ser, se quisermos ir mais longe, marcas de autor.
Uma dessas marcas, as paisagens, é nitidamente uma marca dos Coen. Quase todas localizadas no Midwest (Médio-Oeste) dos Estados Unidos, mostrando as estações do ano mais extremas, sejam elas o Verão intenso no Texas, visto em Sangue por Sangue (1984) e em Este País Não É Para Velhos (2007), ou o inverso, o Inverno rigoroso mostrado em Fargo (1996); Outras marcas, que embora não sejam consideradas marcas de autor, já que aparecem na maior parte dos filmes americanos e já fazem parte da história americana, e que são presença habitual nos filmes destes irmãos do Minnesota, são o dinheiro e a violência. O que quer que aconteça, o dinheiro está sempre presente e a violência, é forte, visceral e por vezes bastante macabra.
Este País Não É Para Velhos (2007) não foge aos exemplos anteriores, onde a violência é desencadeada por causa do dinheiro envolvido. As três personagens principais, que curiosamente nunca partilham os planos filmados, perseguem o dinheiro por motivos diferentes. O veterano do Vietname, Llewelyn Moss (Josh Brolin), encontrou a mala por acaso quando andava na caça e deparou-se com um cenário de morte e pick-up’s cheias de droga. Pensa que ter-lhe-á saído a sorte grande, mas a verdade é que não mediu bem as consequências do seu acto, pois tal como qualquer ladrão, volta ao local do crime, deixando um rasto que compromete a sua fuga. Anton Chigurh (Javier Bardem), o assassino profissional, a verdadeira encarnação do mal, pior que a peste negra, segundo um outro profissional do mesmo ramo, Carson Wells (Woody Harrelson), é o homem contratado para recuperar o dinheiro. Apesar de representar tudo aquilo que é mau e violento, é um homem com alguns princípios profissionais. Leva o seu trabalho até ao fim e fá-lo bem feito, decidindo a sorte de parte das suas vítimas, atirando uma moeda ao ar (o mesmo modus operandi dum vilão de Batman, Harvey “Duas-Caras” Dent, embora Chigurh não utilize sempre a moeda). E claro, também quer ficar com o dinheiro. Penso que este Mau Anton Chigurh, de Javier Bardem, em parte assemelha-se ao Mau Angel Eyes, de Lee Van Cleef em O Bom, o Mau e o Vilão, de Sergio Leone (1966). Por final temos Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones), o velho xerife da história, à beira da reforma, que tenta com os seus meios, resolver este problema sem que seja derramado mais sangue, pois o que aí vêm não agoira nada de bom. Mas o vendaval de violência já começou e nada o poderá parar.
Contextualizando a história dentro da paisagem natural que vemos no filme, podemos dizer que estamos perante uma selecção natural darwiniana, onde a adaptação dos mais fortes lhes permite a sobrevivência. Tudo por causa do principal factor externo: o dinheiro. A nostalgia do xerife (narrada em voz-off no início da película, contrastando com a paisagem árida) apenas nos serve para verificar que os valores mudaram ou simplesmente deixaram de existir. Um retrato da pós-modernidade em que a América vive actualmente, onde a violência cresce cada vez mais longe da vida das grandes metrópoles.
Outro aspecto interessante neste filme dos Coen é a música. Melhor dizendo, a ausência dela. São poucas as cenas que contêm trechos musicais, ficando quase toda a banda musical relegada para os créditos finais. A ausência de música é importante para realçar as fortes paisagens desérticas texanas e cimentar a presença do mal, personificado pela personagem de Javier Bardem, que em boa verdade, está muito bem (Óscar merecidíssimo).
Este País Não É Para Velhos (2007) é sem dúvida um dos bons filmes do ano transacto e mostra que os Coen sabem contar histórias interessantes e sempre actuais, revisitando um género já extinto no cinema actual, onde a história dos Estados Unidos da América terá sido forjada: o western.
O que têm em comum um xerife, um soldador e veterano do Vietname, e um assassino contratado? Nada mais, nada menos que uma mala que contém dois milhões de dólares: dinheiro de uma transacção de droga mal sucedida, ocorrida no Texas, próximo da fronteira com o México, no início de 1980.
Este é o mais recente filme dos irmãos Coen, o grande vencedor dos Óscares de 2007, tendo ganho o de melhor filme. Marca o regresso dos Coen aos thrillers violentos, se tivermos por comparação alguns dos seus registos anteriores, nomeadamente Sangue por Sangue (1984) e Fargo (1996). Este País Não É Para Velhos (2007), tal como os mencionados, têm pontos de contacto evidentes que chegam a ser, se quisermos ir mais longe, marcas de autor.
Uma dessas marcas, as paisagens, é nitidamente uma marca dos Coen. Quase todas localizadas no Midwest (Médio-Oeste) dos Estados Unidos, mostrando as estações do ano mais extremas, sejam elas o Verão intenso no Texas, visto em Sangue por Sangue (1984) e em Este País Não É Para Velhos (2007), ou o inverso, o Inverno rigoroso mostrado em Fargo (1996); Outras marcas, que embora não sejam consideradas marcas de autor, já que aparecem na maior parte dos filmes americanos e já fazem parte da história americana, e que são presença habitual nos filmes destes irmãos do Minnesota, são o dinheiro e a violência. O que quer que aconteça, o dinheiro está sempre presente e a violência, é forte, visceral e por vezes bastante macabra.
Este País Não É Para Velhos (2007) não foge aos exemplos anteriores, onde a violência é desencadeada por causa do dinheiro envolvido. As três personagens principais, que curiosamente nunca partilham os planos filmados, perseguem o dinheiro por motivos diferentes. O veterano do Vietname, Llewelyn Moss (Josh Brolin), encontrou a mala por acaso quando andava na caça e deparou-se com um cenário de morte e pick-up’s cheias de droga. Pensa que ter-lhe-á saído a sorte grande, mas a verdade é que não mediu bem as consequências do seu acto, pois tal como qualquer ladrão, volta ao local do crime, deixando um rasto que compromete a sua fuga. Anton Chigurh (Javier Bardem), o assassino profissional, a verdadeira encarnação do mal, pior que a peste negra, segundo um outro profissional do mesmo ramo, Carson Wells (Woody Harrelson), é o homem contratado para recuperar o dinheiro. Apesar de representar tudo aquilo que é mau e violento, é um homem com alguns princípios profissionais. Leva o seu trabalho até ao fim e fá-lo bem feito, decidindo a sorte de parte das suas vítimas, atirando uma moeda ao ar (o mesmo modus operandi dum vilão de Batman, Harvey “Duas-Caras” Dent, embora Chigurh não utilize sempre a moeda). E claro, também quer ficar com o dinheiro. Penso que este Mau Anton Chigurh, de Javier Bardem, em parte assemelha-se ao Mau Angel Eyes, de Lee Van Cleef em O Bom, o Mau e o Vilão, de Sergio Leone (1966). Por final temos Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones), o velho xerife da história, à beira da reforma, que tenta com os seus meios, resolver este problema sem que seja derramado mais sangue, pois o que aí vêm não agoira nada de bom. Mas o vendaval de violência já começou e nada o poderá parar.
Contextualizando a história dentro da paisagem natural que vemos no filme, podemos dizer que estamos perante uma selecção natural darwiniana, onde a adaptação dos mais fortes lhes permite a sobrevivência. Tudo por causa do principal factor externo: o dinheiro. A nostalgia do xerife (narrada em voz-off no início da película, contrastando com a paisagem árida) apenas nos serve para verificar que os valores mudaram ou simplesmente deixaram de existir. Um retrato da pós-modernidade em que a América vive actualmente, onde a violência cresce cada vez mais longe da vida das grandes metrópoles.
Outro aspecto interessante neste filme dos Coen é a música. Melhor dizendo, a ausência dela. São poucas as cenas que contêm trechos musicais, ficando quase toda a banda musical relegada para os créditos finais. A ausência de música é importante para realçar as fortes paisagens desérticas texanas e cimentar a presença do mal, personificado pela personagem de Javier Bardem, que em boa verdade, está muito bem (Óscar merecidíssimo).
Este País Não É Para Velhos (2007) é sem dúvida um dos bons filmes do ano transacto e mostra que os Coen sabem contar histórias interessantes e sempre actuais, revisitando um género já extinto no cinema actual, onde a história dos Estados Unidos da América terá sido forjada: o western.
(16-04-2008)
2 comentários:
Não considero que o género esteja extinto: muito pelo contrário. O ano de 2007 é por mim lembrado e ficou marcado por três filmes de peso: HAVERÁ SANGUE, O ASSASSÍNIO DE JESSE JAMES PELO COBARDE ROBERT FORD e ESTE PAÍS NÃO É PARA VELHOS. Todos diferentes, todos muito bons. Todos 'westerns'.
Cumps.
Roberto F. A. Simões
cineroad.blogspotcom
Esqueceste-te do "O Comboio das 3 e 10". De qq maneira é um género que já não se faz muito, embora por exemplo o "Australia" tb o ser em grande parte. Quem sabe se tb não voltam mais westerns...
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