segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mais Cinema.

Mais uma quizena cheia de filmes para ver. O Carteia cada vez mais dentro do cinema e mais perto de si:


Título: Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness)

Ano: 2008

Realização: Fernando Meirelles

Elenco: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Yoshino Kimura, Yusuke Iseya, Don McKellar, Danny Glover, Mitchell Nye, Sandra Oh e Gael García Bernal

Género: Drama, Ficção Científica, Thriller e Mistério

País: Canadá, Brasil e Japão

Produção: Andrea Barata Ribeiro, Niv Fichman e Sonoko Sakai

Argumento: Don McKellar, baseado no romance homónimo de José Saramago

Música: Marco Antônio Guimarães

Fotografia: César Charlone

Montagem: Daniel Rezende

Sinopse/Crítica: Desde que o cinema fora inventado que as adaptações de grandes obras literárias são uma das fontes mais inspiradoras dos cineastas. Isto porque o cinema deve à literatura a sua estrutura narrativa, isto é, a forma de contar histórias, embora utilize outros tipos de linguagem. Mas materializar um romance em linguagens fílmicas não é uma tarefa fácil. É, e será sempre, uma visão particular, um ponto de vista, daquele que adapta e isso tem efeito no espectador, pois poderá ou não corresponder ao imaginado por si.

Ensaio Sobre a Cegueira é a segunda obra de José Saramago adaptada ao cinema, depois de A Jangada de Pedra, em 2002, pela mão do holandês George Sluizer. Um filme que chega 10 anos após a entrega do Prémio Nobel da Literatura ao escritor português.

Conta a história duma misteriosa cegueira que contagia toda uma cidade e que se espalha pelo país. Aparentemente incurável, apenas uma mulher não fica afectada pela cegueira e ela será a única testemunha de todas as atrocidades imagináveis, a prova viva da decadência duma sociedade. Mas também ela será a única capaz de achar o caminho de regresso à civilização.

Respeitando ao máximo a obra de Saramago, o realizador brasileiro consegue aqui o grande feito do filme. Pela mão da grande Julianne Moore, a única personagem que tudo vê, que se sento o desespero de todos aqueles que ficam cegos dum momento para o outro. Ela parece impotente perante o fardo que carrega, mas a pouco e pouco a sua força interior emerge de tal forma, que culmina com a protecção e orientação daqueles que mais ama.

O filme tem um visual bastante interessante. A ideia da misteriosa e leitosa cegueira é notável, com planos muito brancos e desfocados, cria-nos a ambiência do novo mundo dos cegos. Um visual cuidado que nós transposta para dentro das personagens, percebendo a sua angustia perante a enfermidade. Em algumas das situações representadas, especialmente, a deambulação dos cegos pela cidade à procura duma orientação comum ou os santos duma igreja de olhos vendados, sentimos verdadeiramente essa angústia perante o mundo à beira do fim.

Como é impressionante como os nossos instintos mais selvagens se sobreponham à razão, à moral e ao bom senso perante uma possível situação de crise, no caso da cegueira, onde não há tempo de adaptação possível. A única forma de sobrevivência é a comunhão.

Apesar de tudo aquilo que possa representar, alegoricamente falando, Ensaio Sobre a Cegueira é um filme sobre esperança na raça humana e sobre a humanização do homem. É importante e urgente reparar em nós, de olharmos para dentro de nós e no próximo, no outro.


Classificação: *** - Bom


Curiosidades sobre o filme:

- O filme foi seleccionado para abrir a edição 2008 do Festival de Cannes.

- O filme agradou ao autor do livro, José Saramago.



Legenda:

*- Mau

** - A ver

*** - Bom

**** - Muito bom

***** - A não perder

(Texto publicado na edição de 20 de Novembro de 2008 do jornal Carteia.)

1 comentário:

X-Filer disse...

Tal como te disse, este saíu-me tão bem que não sei se repito outra. Como tal, cópia:
Um belo filme. Vastamente incompreendido pela crítica, na minha opinião. Talvez por nos mostrar os podres daquilo que a espécia humana de facto é capaz de fazer quando "ninguém está a ver". Acho que foi isso que o Meirelles (e, obviamente, José Saramago) quiseram sublinhar neste filme e que acaba por se tornar na "Verdade Inconveniente". Talvez esta crítica à nossa sociedade de hoje (sim há muita m**** por aí que nós sabemos que existe mas que muitas vezes preferimos não "ver") tenha doído a algumas pesoas e cuja hipócrisia se mascara com "não nos identificamos nisto". Chama-se a isso CEGUEIRA!