sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Mais Críticas do Jornal Carteia.

De quinzena em quinzena, nas salas ou em casa, as melhores sugestões de cinema no seu jornal Carteia:



Título: Hellboy II: O Exército Dourado (Hellboy 2: The Golden Army)

Ano: 2008

Realização: Guillermo del Toro

Elenco: Ron Perlman, Selma Blair, Luke Goss, Doug Jones, Anna Walton, Seth MacFarlane, John Hurt e Jeffrey Tambor.

Género: Aventura, Acção, Fantástico, Baseado em BD

País: E.U.A., Alemanha

Produção: Lawrence Gordon, Mike Richardson, Lloyd Levin e Joe Roth

Argumento: Guillermo del Toro, com história de Guillermo del Toro e Mike Mignola

Música: Danny Elfman

Fotografia: Guillermo Navarro

Montagem: Bernat Vilaplana

Sinopse/Crítica: O detective do paranormal está de volta. Hellboy continua grande, vermelho, com os seus chifres aparados e o seu imponente braço de pedra. Nesta nova aventura, o diabo vermelho e os seus companheiros do Gabinete de Pesquisa e Defesa Paranormal terão pela frente, talvez, os maiores adversários de sempre: o lendário Exército Dourado.

Depois da estreia do primeiro filme em 2004, a equipa criativa liderada por Guillermo del Toro e Mike Mignola, respectivamente realizador e criador da personagem, está de volta para a sequela: Hellboy II: O Exército Dourado. Uma curiosidade: a história para o novo filme foi escrita por ambos. De regresso está também o elenco original, com Ron Perlman à cabeça (e muito bem, mais uma vez), no papel do demónio encarnado.

Qual a palavra que melhor descreve e caracteriza o trabalho do cineasta Guillermo del Toro? Será a palavra “fantasia”? Ou será “imaginação”? Resposta: as duas. Fantasia e imaginação são as duas ideias sempre presentes no cinema do realizador mexicano. A sua capacidade criativa para mostrar seres e mundos para além do nosso faz-nos sentir de novo como crianças perante as histórias de embalar.

Estes são os caminhos por onde trilha Del Toro. Se olharmos para as suas obras anteriores, e mais concretamente a última, O Labirinto do Fauno (2006), descobrimos que o género fantástico ou fantasia, os filmes série B, os monstros clássicos da literatura e do cinema (como Frankenstein, por exemplo), as lendas e os contos da tradição oral, são as suas principais influências. Este novo Hellboy segue a mesma linha do seu antecessor, menos negro e com marcas claras de O Labirinto do Fauno. De facto, a diversidade de criaturas e de cenários que aparecem na película é sinal dessa influência. Parecem tão verosímeis que nós acreditamos que existem mesmo. O filme tem uma montagem dinâmica e coerente, com alguns planos a lembrarem também as vinhetas da BD.

Mas como quase todos os super heróis que conseguem salvar o mundo da adversidade, também este tem os seus pontos fracos. Aqui reside o humor que Del Toro imprime ao filme. Hellboy é muito bom no que faz, mas ao mesmo tempo tem de lidar com os seus problemas pessoais. A sua relação conjugal não anda muito bem: há discussões atrás de discussões. Tendo sido criado por homens, o herói nunca aceitou muito bem o facto de viver escondido, fora do olhar da sociedade. Quer ser reconhecido pelo que faz e quer viver uma vida normal, como qualquer humano. Porém, a sua aparência e vida são tudo menos coisas ditas normais. Uma crítica de Del Toro à sociedade americana e à forma como ainda encara as diferenças: com preconceito e medo.

Podemos então afirmar que Hellboy II: O Exército Dourado é uma história de embalar? Certamente, mas é mais que isso. É um fabuloso espectáculo visual, com uma narrativa interessante e cheia de momentos de humor.

Classificação: **** - Muito bom




Título: Este País Não È Para Velhos (No Country for Old Men)

Ano: 2007

Realização: Joel Coen & Ethan Coen

Elenco: Josh Brolin, Javier Bardem, Tommy Lee Jones, Kelly Macdonald e Woody Harrelson

Género: Thriller, Crime, Drama

País: E.U.A.

Produção: Scott Rudin, Ethan Coen e Joel Coen

Argumento: Joel Coen & Ethan Coen, baseado no romance de Cormac McCarthy

Música: Carter Burwell

Fotografia: Roger Deakins

Montagem: Roderick Jaynes (pseudónimo de Joel & Ethan Coen)

Sinopse/Crítica: O que têm em comum um xerife, um soldador e veterano do Vietname, e um assassino contratado? Nada mais, nada menos que uma mala que contém dois milhões de dólares: dinheiro de uma transacção de droga mal sucedida, ocorrida no Texas, próximo da fronteira com o México, no início de 1980.

Este é o mais recente filme dos irmãos Coen, o grande vencedor dos Óscares de 2007, tendo ganho o de melhor filme. Marca o regresso dos Coen aos thrillers violentos, se tivermos por comparação alguns dos seus registos anteriores, nomeadamente Sangue por Sangue (1984) e Fargo (1996). Este País Não É Para Velhos (2007), tal como os mencionados, têm pontos de contacto evidentes que chegam a ser, se quisermos ir mais longe, marcas de autor.

Uma dessas marcas, as paisagens, é nitidamente uma marca dos Coen. Quase todas localizadas no Midwest (Médio-Oeste) dos Estados Unidos, mostrando as estações do ano mais extremas, sejam elas o Verão intenso no Texas, visto em Sangue por Sangue (1984) e em Este País Não É Para Velhos (2007), ou o inverso, o Inverno rigoroso mostrado em Fargo (1996); Outras marcas, que embora não sejam consideradas marcas de autor, já que aparecem na maior parte dos filmes americanos e já fazem parte da história americana, e que são presença habitual nos filmes destes irmãos do Minnesota, são o dinheiro e a violência. O que quer que aconteça, o dinheiro está sempre presente e a violência, é forte, visceral e por vezes bastante macabra.

Este País Não É Para Velhos (2007) não foge aos exemplos anteriores, onde a violência é desencadeada por causa do dinheiro envolvido. As três personagens principais, que curiosamente nunca partilham os planos filmados, perseguem o dinheiro por motivos diferentes. O veterano do Vietname, Llewelyn Moss (Josh Brolin), encontrou a mala por acaso quando andava na caça e deparou-se com um cenário de morte e pick-up’s cheias de droga. Pensa que ter-lhe-á saído a sorte grande, mas a verdade é que não mediu bem as consequências do seu acto, pois tal como qualquer ladrão, volta ao local do crime, deixando um rasto que compromete a sua fuga. Anton Chigurh (Javier Bardem), o assassino profissional, a verdadeira encarnação do mal, pior que a peste negra, segundo um outro profissional do mesmo ramo, Carson Wells (Woody Harrelson), é o homem contratado para recuperar o dinheiro. Apesar de representar tudo aquilo que é mau e violento, é um homem com alguns princípios profissionais. Leva o seu trabalho até ao fim e fá-lo bem feito, decidindo a sorte de parte das suas vítimas, atirando uma moeda ao ar (o mesmo modus operandi dum vilão de Batman, Harvey “Duas-Caras” Dent, embora Chigurh não utilize sempre a moeda). E claro, também quer ficar com o dinheiro. Penso que este Mau Anton Chigurh, de Javier Bardem, em parte assemelha-se ao Mau Angel Eyes, de Lee Van Cleef em O Bom, o Mau e o Vilão, de Sergio Leone (1966). Por final temos Ed Tom Bell (Tommy Lee Jones), o velho xerife da história, à beira da reforma, que tenta com os seus meios, resolver este problema sem que seja derramado mais sangue, pois o que aí vêm não agoira nada de bom. Mas o vendaval de violência já começou e nada o poderá parar.

Contextualizando a história dentro da paisagem natural que vemos no filme, podemos dizer que estamos perante uma selecção natural darwiniana, onde a adaptação dos mais fortes lhes permite a sobrevivência. Tudo por causa do principal factor externo: o dinheiro. A nostalgia do xerife (narrada em voz-off no início da película, contrastando com a paisagem árida) apenas nos serve para verificar que os valores mudaram ou simplesmente deixaram de existir. Um retrato da América actual, onde a violência cresce cada vez mais longe da vida das grandes metrópoles.

Outro aspecto interessante neste filme dos Coen é a música. Melhor dizendo, a ausência dela. São poucas as cenas que contêm trechos musicais, ficando quase toda a banda musical relegada para os créditos finais. A ausência de música é importante para realçar as fortes paisagens desérticas texanas e cimentar a presença do mal, personificado pela personagem de Javier Bardem, que em boa verdade, está muito bem (Óscar merecidíssimo).

Este País Não É Para Velhos (2007) é sem dúvida um dos bons filmes do ano transacto e mostra que os Coen sabem contar histórias interessantes e sempre actuais, revisitando um género já extinto no cinema actual, onde a história dos Estados Unidos da América terá sido forjada: o western.

Classificação: ***** - A não perder


Legenda:

*- Mau

** - A ver

*** - Bom

**** - Muito bom

***** - A não perder


(Textos publicados na edição de 04 de Setembro de 2008 do jornal Carteia.)

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