quinta-feira, 31 de julho de 2008

Crítica Cinematográfica nº 9.


O Cavaleiro das Trevas (2008), de Christopher Nolan

Há muito tempo que sabemos que Batman ultrapassou as fronteiras da banda desenhada, passando a incorporar a televisão e o cinema. Com Christopher Nolan, a personagem ganhou aquilo que nunca tinha ganho antes: uma postura verdadeiramente séria, humana e mais verosímil. Então o que dizer do novo filme de Batman, O Cavaleiro das Trevas (2008)? Se Batman - O Início (2005) já tinha elevado a fasquia, este ultrapassa-a completamente, sem saber quais serão os seus limites. Penso que estamos, certamente, perante um dos filmes do ano.
Nesta nova aventura, além do tenente Jim Gordon (Gary Oldman), Bruce Wayne/Batman (Christian Bale) conta com um novo aliado no combate ao crime organizado de Gotham City: o Procurador-Geral Harvey Dent (Aaron Eckhart). Mas tudo se torna mais difícil quando um novo criminoso aparece na cidade. Joker (Heath Ledger), de seu nome, espalhará o medo e o terror pelas ruas, se ninguém tomar medidas.
Uma premissa simples, mas com uma história bastante elaborada, coerente e muito bem contada por imagens, como Nolan já nos vem habituando. O filme é longo mas sem tempos mortos, graças a uma montagem eficaz, cheia de clímaxes e anti-clímaxes, até a sua conclusão final.
O filme invoca novamente a questão das escolhas. De que lado estamos? Termos o poder para agir e resolver os problemas, justifica quebrar a lei? Todas as escolhas que fazemos não afectarão também os que nos rodeiam? Jogaremos, seguiremos as regras ou ignoramo-las? Quão ténue será a linha que separa o bem do mal, a ordem do caos? Questões com as quais se depara Bruce Wayne/Batman, quando vê em Harvey Dent, o seu possível sucessor na “limpeza” das ruas de Gotham City.
O elenco é fabuloso, como já o tinha sido em Batman - O Início. Sem contar com os repetentes, Christian Bale, Michael Caine, Gary Oldman e Morgan Freeman, que estão muito bem, os estreantes Maggie Gyllenhaal e Aaron Eckhart estão óptimos, com uma palavra especial para Heath Ledger, no papel do maquiavélico palhaço assassino Joker. Todos sabemos que o actor faleceu no passado mês de Janeiro, criando uma enorme expectativa à volta do filme e da personagem interpretada. De facto, Ledger tem aqui o grande papel da sua (curta) vida, recriando à sua maneira, todos os atributos que Joker já nos tinha habituado na BD. É impossível o espectador não se fascinar pelo misto de atracção e repulsa que a personagem provoca. Desejamos sempre que apareça na tela quando não está e sentimo-nos aterrorizados quando aparece em cena. Ficamos sempre sem saber o que esperar dele, pois é totalmente imprevisível. Já se fala em Óscares. A ver vamos.
Uma nota de destaque para a música de Hans Zimmer e James Newton Howard, que consegue prender o espectador nos momentos de maior tensão. Zimmer e Howard também compuseram a banda sonora de Batman - O Início (2005).
O Cavaleiro das Trevas (2008), de Christopher Nolan, é sem dúvida o filme deste Verão, um dos melhores do ano, e é tudo aquilo que um blockbuster deve ser efectivamente: um grande filme, com uma grande história.


(24/07/2008)

2 comentários:

X-Filer disse...

Fui ver esse filme a semana passada e (após teu conselho), cheio de curiosidade.
Só há uma palavra que defina este filme: BRUTAL! O desenvolvimento das personagens - as incertezas do Batman, a loucura genial e fria do Joker (como tantos outros, afirmo sem medo que será o melhor papel de sempre do falecido Heath Ledger!), a volatilidade de carácter de Harvey Dent após a morte da noiva - invulgarmente intricados para este tipo de filme são uma lufada de ar fresco! Há uma personagem que para mim merecia um destaque maior no filme que era o Chefe Gordon. Mais um grande papel de Gary Oldman, que tristemente, a meu ver, é relegado para segundo plano pelo triângulo Batman-Joker-Harvey. Sendo das personagens que é mais atacada (por Harvey, nas desconfianças do pessoal do seu departamento, de Harvey pela morte da noiva, da cidade, por "proteger" o Batman, e pela história em si, tendo que parecer por vezes fraco e por outras morto!) é, no entanto, aquele que se mantém sempre fiel aos seus princípios e às suas responsabilidades e nunca perde o sentido de justiça e dever!
Sem qualquer dúvida, um dos filmes do ano. Basta dizer que o filme tem quase três horas de duração e pura e simplesmente não se notam, pois mesmo nas alturas "mortas", há sempre algo nos personagens ou no pormenor da história que nos "agarra" ao écran. Talvez os Óscares lhe possam passar ao lado (há-que sempre esperar pelos filmes melosos e tal a arrebatarem as estatuetas) mas é daqueles filmes que nos faz ir ao cinema.

Carlos disse...

Exactamente. Um daqueles filmes que nos faz ir ao cinema.